ISBN | 978-65-84783-14-0 |
Organizadores: | Elenice Parise Foltran; Marli de Fátima Rodrigues |
Categoria | Coletânea |
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Sobre esta obra
Uma observação casual sobre a Educação no Brasil nos mostra a enormidade de problemas históricos que preocupam pesquisadores, políticos e os mais diversos setores da sociedade. A Educação brasileira, historicamente, vive um quadro crônico de falta de aporte econômico; sofre com a falta de profissionais qualificados; apresenta baixa qualidade na aprendizagem; observa alarmantes níveis de desinteresse e abandono pelos estudantes; não consegue incluir adequadamente os estudantes com necessidades especiais e ainda apresenta um grande distanciamento das comunidades das quais fazem parte.
Além desses problemas crônicos, nos últimos anos pesquisadores e sociedade viram-se perplexos com os novos ataques à educação, capitaneados pela extrema direita e que encontraram condições propicias às suas reivindicações no governo de Jair Messias Bolsonaro. Esses setores não se apresentaram para propor soluções às demandas da Educação no Brasil. Pelo contrário, acusam a escola e os professores de poluir mentes jovens com ideias e ideologias que contrariam os bons costumes e que levariam à degenerescência moral e à indisciplina estando portanto, em desacordo com os melhores interesses das famílias brasileiras. Assim, somando-se aos problemas estruturais, a Educação no Brasil encontra-se em um momento em que precisa discutir e enfrentar um conflito, que em última análise centra-se na busca da liberdade e emancipação humana e a defesa dos princípios básicos da democracia: formação de pessoas autônomas e com pensamento crítico.
A presente obra, Efeito Bolsonaro na Educação, é uma proposta corajosa e bem-vinda. Sua proposta, bem-sucedida, é debruçar-se sobre os principais problemas deixados pelo governo Bolsonaro na Educação Brasileira; problemas esses que se não forem enfrentados rápida e adequadamente, causarão sérios prejuízos, não apenas aos nossos aprendizes, mas à toda população.
A organização cuidadosa dos temas selecionados e a escolha criteriosa de pesquisadores respeitados, resultou em um trabalho de excelente qualidade e essencial para todos que se inquietam com os problemas da Educação no Brasil. Uma obra corajosa que une o rigor teórico-metodológico, típico dos trabalhos acadêmicos, mas que analisa as políticas educativas de maneira clara e objetiva, salientando seus efeitos sociais.
Os capítulos foram organizados de maneira a apresentar as mudanças na Educação Brasileira em todos os seus segmentos: desde a retirada de direitos de crianças e jovens à educação com qualidade, passando por mudanças de modelo escolar, discussões sobre o efeito das alterações curriculares; manietamento crítico da escola; empobrecimento na formação de professores; desrespeito e ataques às Universidades pública associando-as à marginalização, além de outras atrocidades. As análises críticas aqui apresentadas, não demonstram apenas seus efeitos deletérios à Educação, mas relacionam com propriedade essas mudanças aos interesses neoliberais, que buscam tanto privatizar a Educação, submetendo-a à lógica do mercado; quanto uma formação para o trabalho precarizado e subserviente.
O livro inicia-se com o capítulo de Rodrigo Mayer que aborda a ascensão da extrema direita e do neoliberalismo radical no Brasil e no mundo, oferecendo o contexto histórico e econômico nas quais se inserem as políticas educacionais. Mayer, numa escrita que combina densidade teórica e empírica em um texto fluido e didático, apresenta os interesses da extrema direita ao mesmo tempo que lembra a instrumentalização do medo como elemento de pressão política.
No capítulo seguinte que tem no título a instigante expressão ´disciplina, ordem e pensamento aprisionado`, somos apresentados por Aldimara C. D. B. Boutin e Simone de Fátima Flach a uma análise contundente sobre os ataques aos valores democráticos transvestidos no discurso da ordem que permeiam a proposta das escolas cívico militares. As autoras demonstram que a função precípua desse modelo escolar é a educação conformista e castradora.
Ana Eduarda T. Vaz e Carina A. S. Darcoleto apresentam uma rica discussão teórico-metodológica para a composição do capítulo 3. As autoras debruçam-se sobre o problema do homeschooling que desconsidera o caráter social da educação e os riscos que a exclusividade do ambiente familiar pode trazer para o desenvolvimento de crianças e jovens.
Ainda nesse rigor teórico reflexivo, temos no capítulo seguinte, escritos por Jennifer C. Dias e Carina A. S. Darcoleto uma contundente análise sobre o movimento da escola sem partido, que busca manietar a educação descolando o ensino da reflexão sobre a realidade social e que se manifesta em um pensamento maniqueísta no qual considera que a produção do conhecimento deve ser livre de pressupostos ideológicos, mas que na prática pretende esconder os determinantes históricos culturais que o produzem ao mesmo tempo em que demoniza o papel crítico do professor nas reflexões cidadãs.
O capítulo 5, de Janete F. F. Caldas e Soeli T. Pereira, vai tratar de um outro problema de extrema gravidade: a retirada de direito à educação infantil. A partir de um levantamento cuidadoso das políticas para a Educação Infantil adotadas no período, as autoras demonstram que o desmonte das conquistas sociais para a educação infantil tem efeitos deletérios não apenas à educação infantil, mas está ligado a todo modelo educacional sucateado no período tratado.
Seguindo a discussão sobre o acesso à educação, Vera L. Martiniak e Elaine C. P. Souza, apresentam no capítulo 6 apresenta importante alerta para os problemas ainda existentes na alfabetização. Alertam as autoras que a descontinuidade de políticas robustas na formação de professores e de processos educativos são fatores importantes para as dificuldades tanto na alfabetização, quanto na permanência dos estudantes nas escolas e parte importante dos problemas são decorrentes da dificuldade de formação de professores qualificados, uma vez que o modelo alfabetizador desconsidera os mais eficientes métodos de ensinar e a necessidade de os relacionar às questões sociais, econômicas e culturais envolvidas no processo de ensino-aprendizagem.
Coube a Rodrigo Diego de Souza apresentar no capítulo 7 as considerações sobre o Novo Ensino Médio. Em um texto muito bem construído, o autor mostra como o uso da propaganda e seu discurso subjacente tem a finalidade de conseguir adesão popular ao NEM, através da utilização da retórica de um ensino mais estimulante e que permite melhorar a formação dos jovens. Mas o autor demonstra que a visão dos especialistas mostra o contrário: esse modelo educativo restringe o direito ao conhecimento historicamente construído.
Ainda sobre a reforma do Ensino Médio e seus efeitos na Educação no Campo, Régis Clemente demonstra, no capítulo 8 que essa foi pautada pelos interesses neoliberais e que fere os princípios de uma educação que promova a emancipação humana. O autor relaciona esses interesses econômicos aos ataques à Educação no Campo no bojo das mudanças no Ensino Médio. Lembra o autor que a luta pela Educação no Campo se insere em um contexto de luta social com o objetivo de construir um conhecimento ligado à história, sonhos e realidades do povo trabalhador no campo. O Novo Ensino Médio, ao priorizar a formação para o mercado de trabalho, busca um controle ideológico formativo descartando a perspectiva democrática na Educação, que no caso do Ensino no Campo faz acentuar o abismo social brasileiro, uma vez que pode levar à extinção de políticas duramente conquistadas e a criminalização dos movimentos sociais.
O Capítulo 9 vai tratar da questão da Educação de Jovens e Adultos. Vanessa E. R. Rodrigues e Rita de Cássia S. Oliveira, demonstram que a agenda neoliberal do governo em questão, promoveu o esvaziamento de programas e projetos e a desconsideração das necessidades desse público específico. Através de uma análise cuidadosa, as autoras mostram como as políticas públicas adotadas no período, aliadas à ausência de mecanismos de inclusão durante a Pandemia do Covid19 levou à negligência desse segmento.
Elenice P. Foltran vai debruçar-se sobre as políticas de inclusão social nas escolas no capítulo 10. Retomando a histórica luta pelo acesso e permanência escolar das pessoas com deficiência, a autora mostra os avanços e retrocessos nesse campo da Educação ao longo do tempo e salienta o viés conservador durante o governo Bolsonaro, que sob a égide da escolha individual favorece instituições privadas de educação para o atendimento desse público, acentuando a segregação social.
No Capítulo 11 livro vai tratar dos problemas enfrentados no Ensino Superior, especialmente pelas Universidades Federais durante o governo Bolsonaro. Ao discutir o avanço da direita no Brasil, os autores lembram os ataques difamatórios promovidos por membros do governo, que chegaram a afirmar que as Universidades Públicas eram ambientes de promiscuidade, uso e distribuição indiscriminado de drogas, além de as acusarem de serem celeiros de ações subversivas, numa ofensiva para desacreditar o papel fundamental das Universidades Públicas como produtoras de conhecimento, formação e crítica social. O objetivo desse discurso, ao fomentar o medo e o horror na população, encontrar terreno propício para o sucateamento das Instituições Públicas de Ensino Superior atendendo aos interesses do mercado.
O livro encerra-se com a discussão sobre as políticas de formação de professores à partir de 2019. Em sua pesquisa Marli de F. Rodrigues e Rodrigo D. de Souza mostram uma política de formação pragmática e utilitarista, em conformidade com a política privatista do governo Bolsonaro. No capítulo 12, os autores demonstram o viés tecnicista na chamada formação por competências, que através do comprometimento das bases epistemológicas na formação de professores, reduz o conhecimento acentuando a precarização do trabalho do professor e da educação como um todo.
O livro Efeito Bolsonaro na Educação, surge em um momento extremamente oportuno, ou seja, no momento em que o Governo Bolsonaro finda-se e que se inicia um novo projeto de país. Os problemas da Educação no Brasil apesar de crônicos, são urgentes e debruçar-se sobre os escombros deixados pelo antigo governo é necessário para a reconstrução de políticas públicas educacionais que atendam aos interesses da população e que busquem efetivamente uma formação de qualidade e emancipadora para nossas crianças e jovens.
A organização em capítulos temáticos propicia e permite a discussão política necessária para relacionar os projetos educativos aos seus efeitos sociais, pois apesar de tratar-se de uma obra acadêmica, essa se mostra acessível para que educadores e outros setores da sociedade beneficiem-se de seus dados e reflexões propostas.
Boa leitura!
Maria Marce Moliani
Ano Publicação | 2023 |
Edição | Volume 1 |
Páginas | 289 |
Encadernação | Ebook |
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